.rockstage

BRASIL

Rock Baiano: Um recorte de sua história e importância

131 views

A Rockstage preparou um artigo que remonta a história inicial do rock baiano e sua difusão nas rádios! Boa leitura!

 

 

O início de tudo

 

O rock acontece na Bahia bem antes dos Beatles: com Elvis Presley.

 

Em 1964, todos os domingos pela manhã, direto do Cine Roma, Waldir Serrão comandava o som na Rádio Cultura. Assim, começam a surgir bandas de rock, os conjuntos de iê iê iê (fenômeno ocorrido apenas no Brasil e que se apropria do refrão de “She Loves you”, dos Beatles). Waldir Serrão atribui a ele o uso inicial, em Salvador, de expressões como “banda” e “pauleira total”.

 

Entre as inúmeras bandas da epoca, destacam-se: Waldir Serrão e seus Cometas (grupo de cover dublado), Raulzito e seus Panteras, The Gentleman (com Pepeu e os irmãos Jorginho e Carlinhos), Eles 4, 5 Loucos, The Jormans, The Jetsons, Brasa Bossa, Dedos de Ouro, Os Selvagens, Os Desafinados, MJ6.

 

Apresentavam-se em bailes, nos diversos clubes sociais da cidade (Estância Campomar, Piatã Clube, Português, Baiano de Tênis, Associação Atlética da Bahia), também no cinema Roma e em programas da TV Itapoan, produzidos por Domitila Garrido e Cid Seixas.

 

Programa de Rádio “Só Pra Brotos”

 

Só pra Brotos. Aumente o Rádio foi idealizado em 1965, por Newton Moura Costa e apresentado por Waldir Serrão (que cedia os discos) o programa contava, também, com Jayme Fahel, Almir Duarte, Diniz Oliveira. Através de recortes de entrevistas em materiais espalhados pela internet localizamos ótimas informações vindas diretamente da fonte:

 

“Entre 59 e 62 o que tocava era Elvis Presley, Cely Campelo, Neil Sedaka, Paul Anka, Little Richard, Carlos Gonzaga, Demétrius, Sergio Murilo, Ronny Cord”, recorda Waldir Serrão.

 

“O programa funcionava com entrevistas, cartas, telefonemas”, explica Serrão. Com a explosão dos Beatles e da Jovem Guarda aconteceram muitos shows no Ginásio Antonio Balbino, o Balbininho. “O Big Boy é que me deu o toque para fazer um programa igual ao dele na Rádio Mundial, no Rio de Janeiro. Muito Elvis e Beatles, era a receita”, conta. A cena do rock baiano só crescia.

 

A lenda do rock baiano

 

O pai do rock baiano? Acho que sou eu né?”, afirmou Waldir Serrão, o Big Ben baiano, que aos 70 anos, sentou-se numa cadeira humilde do abrigo Lar São José, na Ladeira dos Bandeirantes, em Brotas: Serrão complementa:

 

“Eu comecei tudo. Fui eu quem levou Raulzito para esse mundo, mesmo contra a vontade de Dona Maria Eugênia, a mãe dele. Mas ele morreu roqueiro”

 

Se a alcunha popular de “pai do rock” é dada a Raul Seixas por conta de seu irreverente protagonismo musical badalado dentro e fora do Brasil, diversos músicos contemporâneos concordam que o título cabe antes a Waldir Serrão, por ele ter sido o primeiro agitador cultural em função do estilo na capital baiana.

 

Confira a entrevista completa e exclusiva de Raul Seixas com Pedro Bial em 1983 clicando aqui

 

Serrão foi o criador da primeira banda de rock que se tem notícia na Bahia: Waldir Serrão e seus Cometas, de 1957.

 

 

Ele foi promotor de diversas matinês de rock quando tinha apenas 15 anos, além de ter sido o inventor do Elvis Club Rock, que chegou a mais de 80 associados nas décadas de 1950 e 1960, notadamente estudantes e técnicos e mécânicos, trabalhadores da indústria na Cidade Baixa.

 

 

“Big era um verdadeiro rei de Roma. Ele transformou o Cine de Roma no templo da juventude e do rock e foi uma das figuras mais importantes na trajetória de Raulzito e Os Panteras”, reconhece Carlos Eládio, o guitarrista da banda que acompanhou Raul Seixas até sua morte. “Ele é um ícone no país, mas infelizmente o Brasil não tem memória”, contesta Carleba, também Pantera.

 

O radialista e apresentador Waldir Serrão faleceu em Julho de 2018, em Salvador.

 

Expansão do rock baiano: Eventos e rádios

 

1966 – Acontece o boom total, a Guaraná Platense promove shows em cima de caminhões com estrelas como Roberto Carlos, Zimbo Trio, Cauby Peixoto, Angela Maria, Wanderléa, Jair Rodrigues.

 

 

1967 – Aos sábados, Elias Sobrinho comandava o “Sabatinas da Alegria”, programa com shows promovidos por Edmundo Viana e Waldir Serrão no Cine Nazaré, com auditório lotado e transmissão ao vivo, pela TV Itapoan. Ao lado da cena rock baiana, havia, ainda, a presença dos sambistas acontecendo simultaneamente: Tom e Dito, Antonio Carlos e Jocafi, Berimbau, Riachão, o maestro Carlos Lacerda. Era o cenário musical da cidade à época.

 

 

O Som do Big Ben passou para a Rádio Bahia, onde permaneceu por cinco anos. Depois na Tv Itapoan, rádios Sociedade, Excelsior, Cultura, Clube. E existiam também os fãs clubes: Elvis Rock Club, na Boa Viagem, onde se ensinava a dançar rock e twisty; Elvis Today Fã-clube; Imperial Rock Clube, na rua Saldanha da Gama.

 

 

Rock Baiano
Raul Seixas, Waldir Serrão, Jerry Adriani e Leno

 

São nomes marcantes desse período, ainda, as estrelas do iê iê iê: Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Os Vips, Leno e Lilian, Golden Boys, todos em apresentações concorridas no Balbininho.

 

 

Os superstars se hospedavam no Palace hotel e os fãs paravam a Rua Chile. Há que se mencionar, também, David Barauh, Plínio, irmão de Raul, Thildo Gama, Gino Frei, Bartilloti e Nilton Papaum, o primeiro beatnik baiano. Dos anos 70, Mar Revolto, Creme, 19º Colapso Nervoso, Pulsa…

 

 

Com um histórico repleto de nomes de peso nacional, a produção roqueira baiana não pararia mais: de Raul Seixas a Camisa de Vênus, Maria Bacana e Penélope, Pitty ,Vivendo do Ócio, entre tantos outros.

 

 

Leia também:

Rock Gaúcho: 15 bandas que você deve conhecer

A vida e a música de Jimi Hendrix

Entrevista exclusiva de Raul Seixas com Pedro Bial está disponível no Youtube