Soundgarden: “Badmotorfinger”, doze faixas de esporro puro

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Um dos clássicos do Soundgarden, e do grunge, no review feito por Paulo Severo da Costa para a Whiplash em 2012.

Todo fã de rock n´roll, em um momento ou outro – ou a vida inteira mesmo- tem, ou teve, a mania de rotular bandas. Vamos confessar: é quase irresistível discutir se “Master of Puppets” ainda se identificava com a estética thrash ou não, se o LED era heavy metal ou hard rock, se tal banda era speed ou não. Tudo bem é mesmo bobo e tal – mas que é legal, é.

 

Nessas discussões da vida, apareceu há vinte e poucos anos o termo grunge. Como aconteceu com o termo “punk” dez anos antes, o “movimento” enquadrava, em termos de sonoridade, bandas que tinham pouca ou nenhuma identificação entre elas, como ALICE IN CHAINS e PEARL JAM. A bem da verdade, o termo foi criado pelo selo Sub Pop, gravadora que lançava bandas do underground americano, e no início da década de 1990, contratou Everett True, repórter do Melody Maker, para uma reportagem sobre essas bandas. Daí a nomenclatura caiu na boca do povo.

 

 

Um dos grupos “iniciados” no Sub Pop foi o SOUNDGARDEN. Em 1987 foi lançado, pelo selo o EP, “Screaming Life”, que já mostrava a orientação metal da banda, uma espécie de BLUE CHEER contemporâneo, barulhento e eficientíssimo. Depois de dois bons álbuns- “Ultramega Ok” em 88 e “Louder Than Love” em 89- a banda lança, em 1991, “Badmotorfinger”.

 

O disco é explosão metal pura com forte influência do início da década anterior – repleto de riffs no melhor estilo “cacetada” e um vocalista singular, CHRIS CORNELL. Contando ainda com MATT CAMERON (bateria), KIM THAYL, na guitarra e BEN SHEPPERD no baixo, o que se tem aqui são doze faixas de esporro puro, sem frescura e com alto grau de testosterona.

 

 

“Rusty Cage” e “Outshined”, que abrem o álbum, são bons exemplos do que uma “alfabetização” correta em rock n´roll pode fazer: a primeira, com uma afinação de guitarra fora do padrão (uma constante no disco) foi regravado por gente do gabarito de JOHNNY CASH; a segunda é confessional- segundo CORNELL trata da ideia da dessacralização da figura de ídolo, que ele admitia não suportar.

 

 

Uma constante no disco é o inacreditável peso que permeia todas as canções: “Slavers and Bulldozers” e “Drawing Flies” possuem um dos melhores registros vocais de CORNELL (o que não é pouca coisa!), botando tudo pra fora em um estilo único. Se “Jesus Christ Pose” tem uma tremenda letra, criticando a religião usada com fins não tão nobres, “Room a Thousand Years Wide” não fica longe nesse quesito, mandando balas nos estereótipos envoltos nesse tema.

 

As variações rítmicas também são um destaque a parte: “New Damage”, “Somewhere” e “Face Pollution” são ótimos exemplos de como sair do esquema “quadradão” de ritmo. São essas alternâncias, inclusive, que criam identidades próprias às músicas- coisa rara de se ver em um momento em que se criam pacotes de produção onde é quase impossível se distinguir uma coisa da outra.

 

Enfim – rótulos a parte – Nota: 10.

 

Track list:

1. “Rusty Cage”
2. “Outshined”
3. “Slaves & Bulldozers”
4. “Jesus Christ Pose”
5. “Face Pollution”
6. “Somewhere”
7. “Searching with My Good Eye Closed”
8. “Room a Thousand Years Wide”
9. “Mind Riot”
10. “Drawing Flies”
11. “Holy Water”
12. “New Damage”