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Here We Go Again

Violet Soda
2018
Forever Vacation

Quantas vezes você já não reclamou sobre um compromisso de trinta minutos demorar uma eternidade, ou lamentou copiosamente pelas suas férias de três meses, durante o ensino médio, terem passado tão rápido como uma noite de sono bem dormida? Pois é, o tempo não é exato. Pelo contrário, ele é flexível e, por vezes, o dobram e desdobram, o prolongam ou o sufocam. Essa noção temporal, além de extremamente subjetiva, atua para fora da exata lógica verificadora de dados empíricos. Apesar da viagem temporal não ser exatamente uma realidade ainda legítima, uma ferramenta equivalente, em relação desigual, proporciona um breve lapso do ontem já vivido. Ativada por meio de diversos estímulos aos sentidos, a lembrança é o convite a visitar os registros fixados ao longo do hipocampo.

Notar como a consciência de continuidade e passagem do tempo funcionam, em diferentes óticas que a focalizam, rendem boas contemplações de imagens turvas pelo tempo e, quem sabe, uma passagem imediata aos rincões da lembrança. Atravessando toda a compreensão linear que perssegue o escoar dos dias, a arte questiona e redefine os marcos do espírito do instante. Da mesma forma em que produções podem se dissolver assim que chegam ao mundo por datar, praticamente, o minuto em que surgiram, outras criações podem se eternizar exatamente por serem capazes de abstrair e não detonarem traço algum de temporalidade, tamanha é a virtude da obra. Entre a liquidez de alguns e a eternidade de outras, alguns trabalhos ficam no meio do caminho, e geram obras que criam as condições necessárias para que um período perdure ad infinitum.

Na música a reminiscência é uma constante. Por vezes, de tempos que sequer existiram. Os sintomas de um revival do rock noventista se mostram mais crescentes a cada novo lançamento. Os mesmos sinais já vem afetando o Brasil de uma forma um pouco diferente. Suspeitas do retorno de uma cena emo — por alguns, encarada em uma devoção ao melhor estilo Sebastianismo do século XXI — fazem o entusiasmo e a esperança de muitos voltarem a aflorar, após anos de enfraquecimento do rock em meios tradicionais (não caiam nessa). Acompanhando mais a cena gringa, o novo supergrupo nacional, Violet Soda, em seu primeiro EP, resgata a vibe do rock garageiro de forma autêntica e integral.

Rompendo com o comportamento padrão de velhos saudosistas, que sempre alegam como em seu tempo tudo era melhor, dessa vez eles largam a murmuração e tomam as rédeas de sua produção, em uma estreia — não tão estreante — revigorante. Formada por músicos experientes da cena independente, o compacto exala aquele sentimento de “faça você mesmo” (talvez usar o termo em inglês, do it yourself, faça mais o estilo da banda), um ímpeto jovem e moderadamente irresponsável, que faz som pra se divertir, sem gestão de carreira a longo prazo, ou coisa do tipo. Mas a produção não é mero fruto da inocente sorte de principiantes. É claro que a experiência que cada integrante traz em sua bagagem é fator crucial para passar uma mensagem com clareza e determinação. Com isso, a ingênua despretensão da estreia do grupo é poderosa. Não age apenas como um ato de reminiscência, mas um transporte eficaz e concreto, em direção ao passado recente. Em meio à clássica dinâmica do rock caseiro, Violet Soda proporciona a vivência da juventude noventista, duas décadas depois. Sem olhar a quem, eles convidam a todos (mesmo quem sequer existia) para viver uma nostalgia nada melancólica.