1991: The Year Punk Broke, lançado nos cinemas em 1992, é um documentário dirigido por Dave Markey, apresentando a banda americana de rock alternativo Sonic Youth em turnê pela Europa em 1991.
Embora Sonic Youth seja o foco do documentário, o filme também dá atenção a Nirvana, Dinosaur Jr. , Babes in Toyland, Gumball e The Ramones. Também aparecem no filme Mark Arm, Dan Peters e Matt Lukin do Mudhoney, e o roadie Joe Cole, que foi assassinado em um assalto três meses após o término da turnê. O filme é dedicado a Cole.
“Quando eu estava filmando Sonic Youth ou Nirvana ou Dinosaur ou sei lá, eles não estavam se censurando. As pessoas estavam apenas curtindo essa breve turnê de duas semanas. Havia muita bebida rolando, muito haxixe. Todo mundo estava se divertindo nos bastidores”, contou o diretor em uma entrevista para a revista Spin em 2011, quando o filme foi relançado em DVD depois de anos fora de circulação.
“Kurt sempre foi engraçado e divertido de estar por perto, e parecia absorver qualquer tipo de atenção pessoal. Eu me sentia muito irmã mais velha, quase maternal, sempre que nós dois estávamos juntos, e isso transparece naquele filme”, relata Kim Gordon, baixista e vocalista do Sonic Youth, em seu livro de memórias Girl in a Band.
O filme documenta a tour do Sonic Youth pela Europa, pra divulgar o disco Goo, lançado no ano anterior, o sexto do grupo e o primeiro deles por uma grande gravadora: a Geffen Records. O material foi lançado em 1992, quando o Nevermind já tinha estourado e alterado todo o cenário da música independente, catapultado a cena underground para o mainstream.
“Quando o Nirvana excursionou com a gente em 1991 antes do lançamento de Nevermind ninguém na Europa sabia quem eles eram. Eles costumavam ser a primeira banda a subir no palco em festivais, fazendo shows incríveis”, lembra Gordon.
O nome do filme surgiu de uma piada interna durante a tour, depois que o pessoal assistiu uma apresentação do Motley Crue tocando Anarchy em The UK durante um show exibido na MTV, uma síntese justamente da morte de tudo aquilo que o punk representa.
Mas quando o filme foi lançado, a fama alcançada pelo Nirvana e a energia punk das apresentações fez com que o título fosse levado ao pé da letra e o título foi relacionado ao sucesso da banda, como se o Nirvana representasse o surgimento do punk em 1991.
Do underground ao mainstream
O documentário traz algumas boas esquetes também com o baterista Dave Grohl que tinha se juntado ao Nirvana recentemente e especialmente por parte do Thurston Moore, guitarrista e vocalista do Sonic Youth que se empenha nas improvisações e conduz a narrativa do filme vários momentos
“As pessoas veem o rock and roll como uma cultura jovem, e quando a cultura jovem se torna monopolizada pelas grandes empresas, o que os jovens devem fazer? Acho que devemos destruir o falso processo capitalista que está destruindo a cultura jovem por meio do marketing de massas, paranoia comercial e controle de comportamento. E o primeiro passo é destruir as gravadoras, não concorda?”
Além de captar o Nirvana em um momento anterior à fama, o documentário é um registro relevante pra olhar o cenário da música independente em um momento que alterou o rumo da indústria fonográfica na década de 1990, com várias bandas assinando contrato com grandes gravadoras.
Com o lançamento do disco Goo pela Geffen Records, pela primeira vez o Sonic Youth tinha recursos pra fazer o que bem entendesse em relação à produção, gravação, e divulgação de um disco.
Sonic Youth
Como resultado, o grupo de Nova York alcançou a marca de 250 mil cópias vendidas, um feito pra uma banda que veio do cenário independente, um caldo engrossado ao longo de toda a década de 80.
O passo do Sonic Youth para uma grande gravadora depois de 10 anos de estrada e o reconhecimento alcançado com o disco Daydream Nation, abriu a porta para outras bandas lançarem seus discos por majors, como foi o caso do Nirvana e de outras bandas do undergroud estadunidense que excursionaram nessa tour.
O Dinossaur apresenta nessa excursão europeia as músicas do disco Greenmind, lançado em fevereiro daquele ano pela Sire Records e o Babes in Toyland assina contrato com a Warner para lançar disco Fontenelle pelo selo em 1992.
Nevermind
Foi Kim Gordon quem indicou o Nirvana para a Geffen e os músicos de Seattle assinaram o contrato com a DGC Records para o lançamento do Nevermind. Os músicos do Sonic Youth conheceram o Nirvana na casa de shows Maxwell’s em Hoboken, New Jersey.
O grupo de Seatle tinha lançado seu primeiro trabalho Bleach em 1989 pelo selo Sub Pop Records. Foi Bruce Pavitt, o fundador da Sub Pop, que recomendou a Kim Gordon que assistisse a uma apresentação do grupo e garantiu que, se eles gostavam do Mudhoney, iriam “amar” o Nirvana.
“Você tem que ver eles ao vivo. Kurt Cobain é como Jesus. As pessoas amam ele. Ele praticamente anda sobre o público”, disse Pavitt, segundo o relato de Gordon.
As gravações do disco começaram aconteceram maio e junho de 1991. A tour europeia registrada no documentário aconteceu entre 20 de agosto e 1 de setembro de 1991. Em 24 de setembro daquele ano, foi lançado o Nevermind.
Na véspera do vôo pra Londres onde se juntaram ao Sonic Youth, os integrantes do Nirvana tinham virado a noite gravando o vídeo de divulgação para Smells Like Teen Spirit, que se tornou o principal hit do grupo. Eles pegaram o mesmo voo que o documentarista Dave Markey.
O disco alcançou a marca de 35 milhões de cópias em todo o mundo e surpreendeu a todos, inclusive a gravadora que esperava vender algo em torno de 100 mil cópias.
“Eu pensei que o Nirvana teria sucesso, mas um sucesso que foi definido em termos de uma banda como o Sonic Youth, que vendeu algumas centenas de milhares de discos e foi ‘enorme’”, contou Markey em entrevista ao jornalista Stevie Chick para o livro Psychic Confusion: The Sonic Youth Story.
Thurston Moore e sua ex-mulher Kim Gordon, membros da banda Sonic Youth
Após o encerramento da tour, Markey voltou para Los Angeles. Quando começou a trabalhar no filme, o grupo já tinha alcançado o disco de ouro com a venda de 500 mil cópias e, durante as três semanas em que se dedicou à edição do material, o Nevermind já tinha passado a marca de 2 milhões de cópias vendidas.
Em um texto publicado no jornal The New York Times em 2004, por ocasião dos 10 anos da morte de Kurt Cobain, Thurston Moore faz uma reflexão sobre esse processo.
“Quando o Nirvana se tornou popular, todos fomos chamados de rock alternativo — um termo menos ameaçador do que qualquer coisa com punk no título. as bandas originais de rock alternativo — Nirvana e Sonic Youth incluídos — nunca tiveram qualquer ligação com o rock alternativo. Todos nós tínhamos ido longe demais para qualquer conselho profissional em relação ao ajuste estilístico” – analisa Moore no artigo intitulado When the Edge Moved to the Middle (Quando a Borda se Move para o Meio).
Ele aponta no artigo que, após a morte de Kurt, “grande parte da espuma capitalizada do rock alternativo fracassou” e após perder seu principal grupo, “um grupo improvável imbuído de gênio de vanguarda, o rock mainstream havia se tornado “mais duro e mesquinho, mais agressivo, embotado e sexista”.
Raiva e agressão eram elementos com os quais Kurt brincava como artista, mas ele era profundamente gentil e inteligente. Ele era sincero em sua aversão pela música bullyboy — sempre declarando seu amor pela cultura queer, feminismo e o ideal punk rock do-it-yourself. A maioria das pessoas que adaptam o punk como estilo de vida representam esses ideais, mas com uma das melhores vozes do rock já ouvidas, Kurt conseguiu representá-los para um mundo atencioso. Qualquer contato que ele fez foi realmente seu sucesso mais valioso — refletiu Moore no artigo em homenagem a Cobain.
“Assim como acontece com muitas pessoas que morrem violentamente, e muito jovens, nunca há qualquer resolução ou encerramento. Kurt ainda se move por dentro de mim e por fora também, com sua música”, aponta Kim Gordon em seu livro de memórias.
Elenco
- Sonic Youth
- Babes In Toyland
- Dinossauro Jr.
- Gumball
- Dom Fleming
- Jay Spiegel
- Eric Vermillion
- Mudhoney
- Nirvana
- Ramones
- Outros
- Nic Fechar
- Joe Cole
- David Kendall
- Courtney Amor
- Dave Markey
- Craig Montgomery
- Bob Mold da Hüsker Dü
- Susanne Sasic
- Peter Van Der Velde – gerente de turnê
- Dave Evans – motorista
Músicas incluídas no filme
As músicas incluídas no filme são:
- Sonic Youth – “Schizophrenia”
- Nirvana – “Negative Creep”
- Sonic Youth – “Brother James”
- Nirvana – “School”
- Sonic Youth – ” Teen Age Riot “
- Dinosaur Jr. – “Abnormal Scene”
- Babes In Toyland – “Dust Cake Boy”
- Sonic Youth – ” Dirty Boots “
- Nirvana – ” Infinite, Nameless “
- Sonic Youth – “I Love Her All the Time”
- Gumball – “Pre”
- Dinosaur Jr. – ” The Wagon “
- Sonic Youth – “Mote”
- Nirvana – “Smells Like Young Spirit”
- The Ramones – “Command”
- Sonic Youth – ” Coisa Kool “
- Nirvana – ” Polly “
- Sonic Youth – “Expressway To Yr. Skull”
