Quando foi lançado em 1991, Nevermind, do Nirvana, enviou ondas de choque pelo mundo da música. Trouxe o rock alternativo para o mainstream e quase da noite para o dia fez do Nirvana a maior banda do mundo. O disco vendeu mais de 30 milhões de cópias e é amplamente considerado um dos maiores álbuns de todos os tempos.
Parte do sucesso de Nevermind foi quase certamente devido à sua incrível capa, criada por Robert Fisher. A capa agora faz parte da coleção do Museu de Arte Moderna e é considerada um clássico do design.
Mas antes do lançamento de Nevermind, o Nirvana era uma banda desconhecida e Fisher era um graduado igualmente desconhecido trabalhando na Geffen Records. Ele explica o que aconteceu a seguir:
“Fui contratado como designer e cheguei a um cargo de diretor de arte. Fiquei animado quando soube que a Geffen iria assinar com o Nirvana, então fui e perguntei se poderia trabalhar nisso. Ninguém na gravadora tinha ideia de que seria tão grande. Mas assim que recebi a cópia antecipada em fita fiquei impressionado.”
Depois de se encontrar com a banda, Fisher descobriu que Kurt Cobain já tinha uma visão para a capa:
“Kurt queria que um bebê nascesse debaixo d’água. Naquela época, antes da Internet, você tinha que ir até a livraria local e percorrer os livros de parto e tentar encontrar fotos. Então foi o que eu fiz. Mas tipo… não tinha como a gente fazer uma capa de álbum com aquilo. Eu não conseguia encontrar nenhuma imagem muito boa e todas eram muito gráficas para usar.”
Depois de descartar a ideia do parto, Fisher começou a explorar outras opções com bebês debaixo d’água. Mas percebeu que a imagem precisava de outra coisa.
“Pensamos ‘Ok, temos que fazer mais do que apenas um bebê debaixo d’água’. Então, Kurt teve a ideia de adicionar um anzol para torná-lo mais ameaçador. Passamos a tarde sentados pensando em todas as coisas engraçadas que poderíamos colocar no anzol de peixe. Uma ideia era um pedaço de carne, como um grande bife cru. Outro era um CD ou algo para simbolizar a música. Fomos almoçar e ficamos tipo: ‘Que tal um burrito?’ Durou horas. Não me lembro quem disse nota de dólar, mas todo mundo falava ‘isso é muito bom’, e foi o que acabou sendo. Durante o processo Kurt não veio com um grande plano ou uma mensagem que ele queria passar. Tudo meio que se juntou organicamente, você sabe, foi como se um passo levasse a outro passo que levasse a outro.”
Agora que tinha um conceito, Fisher precisava encontrar um fotógrafo para executá-lo. Ele logo encontrou a pessoa perfeita: Kirk Weddle.
“Eles costumavam ter essas coisas chamadas livros de trabalho – grandes catálogos grossos onde os fotógrafos compravam uma ou duas páginas e os enviavam para criativos para tentar conseguir trabalho. E esse cara lá dentro, um de seus slogans era que ele se especializou em ‘humanos submersos’. Pensei: ‘Esse é o nosso cara!’. Esse era Kirk Weddle.”
“Contratamos Kirk para tirar as fotos no centro aquático de Pasadena. Ele conseguiu que quatro ou cinco pais diferentes descessem e nos emprestassem seus bebês e se revezassem para passá-los na frente da câmera. Se você olhar atentamente para a imagem final, você pode ver a marca de mão dos pais no peito do bebê, onde eles estavam segurando-a antes de passá-la.”
“Uma semana depois, recebi algumas folhas de prova, talvez 40 ou 50 frames. Havia apenas um que era absolutamente perfeito. O posicionamento, o olhar no rosto do bebê, a maneira como seus braços estavam esticados como se ele estivesse alcançando algo – tudo era simplesmente perfeito. Esse é o que eu escolhi.“
“Antes dos computadores, você costumava ter caras sentados em salas escuras recebendo muito dinheiro para fazer o que fazemos agora no Photoshop. Tínhamos que escanear a foto e depois você marcava com lápis para mostrar o que queria fazer, como ‘Adicione uma nota de dólar aqui’ ou ‘Coloque algumas bolhas aqui, tire o fundo da piscina’. Aí você mandava e, em quatro ou cinco dias, você recuperava. Você abria o envelope como ‘oh!'”
“Fui à loja de iscas e pegos anzóis. Mandei para o fotógrafo aquelas com umas polaroids de como eu queria que a nota de dólar ficasse. Então eu enviei essas fotos para o separador de cores e eles escanearam e colocaram.” Com a foto completa, era hora de adicionar os outros elementos à capa.
“Eu queria que a palavra Nevermind parecesse meio subaquática e ondulada. Então eu mandei imprimir e o segurei em uma máquina Xerox. Enquanto ele estava digitalizando, eu mexi a imagem e ela colocou ondas através dela. Então eu escaneei novamente e o agitei em outra direção. Foi assim que consegui o tipo ondulado. Agora você só precisa ir em um computador e usar filtros ou o que quer que seja, e as pessoas dizem que o tipo ondulado é meio chinfrim. Mas lá atrás era uma inovação!”
Com a adição do tipo e do logotipo existente da banda, a capa final foi completa.